
Nem tão perto e nem tão longe: como ter uma boa relação com meu filho adolescente?
Ouvi recentemente de uma mãe de adolescente:
“ai estou chateada com meu filho, não gosto da forma que ele me trata”.
Essa é uma fala que ouço frequentemente das mães e dos pais de adolescentes. Uma fala que remete ao sentimento de luto e perda que esse momento da vida dos nossos filhos nos traz, afinal, cadê aquele filho amoroso e doce, e que hoje mal fala comigo, mal me dá um bom dia?
Ninguém fala o suficiente sobre como é ser mãe de um adolescente. Falam muito sobre as cólicas do bebê, as noites mal dormidas, a introdução alimentar, mas e quando ele cresce? Quando começa a responder atravessado, se isola no quarto e parece que não precisa mais da gente?Como lidar?
Primeiro, quero te dizer que dói.
Dói porque a gente sente que está perdendo o controle.
Dói porque a gente só quer ajudar, mas nem sempre o filho está aberto para receber e muitas vezes, acredita que não compreendemos o que ele está vivenciando.
Dói porque aquele filho que antes pedia colo, agora procura acolhimento no grupo de amigos e às vezes, até evita o grupo familiar.
A adolescência é marcada por mudanças físicas, emocionais e comportamentais. E para a mãe, o desafio é enorme ao mesmo tempo em que precisa dar espaço para o filho crescer e se descobrir, também precisa manter limites, orientar, acolher e, acima de tudo, não perder o vínculo.
O diálogo, que antes fluía naturalmente, agora pode virar um campo minado. O adolescente quer privacidade, independência e, muitas vezes, se fecha. A mãe precisa reaprender a ouvir sem julgar e falar sem invadir, encontrar o equilíbrio entre dar autonomia e manter regras claras é talvez um dos maiores desafios. Soltar demais pode gerar riscos, segurar demais, pode sufocar. É uma dança delicada.
Pensando nisso, listei abaixo alguns importantes pontos que perpassam essa experiência e que podem te auxiliar a refletir sobre as mudanças que estão sendo vividas por aí:
Privacidade: seu filho provavelmente vai querer ficar mais no quarto, vai querer conversar menos e apesar do incômodo que esses comportamentos geram, não podemos deixar de pontuar que temos um importante processo acontecendo: ele está encontrando seu lugar no mundo. Durante esse processo, busque cuidar da relação, afinal, entre privacidade e distanciamento existe uma boa diferença. Cultivar os espaços de troca e não deixar de estabalecer os limites, que são importantes para a família de vocês, é fundamental.
Independência: é uma das principais marcas da adolescência. Nesse período, os adolescentes começam a desejar mais autonomia, querem tomar decisões por conta própria e experimentar novas responsabilidades. Esse movimento é natural e saudável, pois faz parte do processo de amadurecimento e construção da identidade. Seu filho pode questionar regras e expressar opiniões com mais firmeza. Embora isso possa gerar conflitos, são sinais de que ele esta aprendendo a pensar por si mesmo e a se posicionar no mundo. Erros fazem parte do processo, e é importante que seu filho sinta que pode contar com o apoio da família, mesmo quando falha.
Amizades: é natural que seu filho se aproxime mais dos amigos. Ele busca nessa relação apoio, identificação e companhia, pois estão em uma fase de intensas mudanças e descobertas. As amizades ganham grande importância e influenciam diretamente o modo como os adolescentes pensam, sentem e se comportam. Também é comum que esses grupos de amigos mudam com frequência, e isso não é, necessariamente, um problema.
No entanto, atenção: mesmo que os amigos ganhem destaque, o papel da família continua sendo fundamental. Quando os adolescentes se sentem ouvidos e acolhidos em casa, desenvolvem maior segurança emocional e discernimento nas relações sociais. Manter um diálogo aberto, com escuta atenta e sem julgamentos, é uma forma poderosa de apoiar seu filho.
Redes sociais: fazem parte da vida dos adolescentes é onde eles se comunicam, se expressam e também constroem relações. Mas esse espaço também exige cuidado e orientação, pois apresenta riscos que muitas vezes eles ainda não têm maturidade para reconhecer sozinhos. E como lidar com essa questão?
- ✔️ Fale abertamente sobre o que ele faz nas redes,
- ✔️ Pergunte com interesse genuíno: com quem conversa, o que assiste, o que gosta de postar
- ✔️ Explique os riscos de expor informações pessoais, imagens e localização
- ✔️ Ensine a configurar perfis privados e a bloquear ou denunciar conteúdos inadequados
- ✔️ Oriente o que pode ou não ser exposto, fale sobre privacidade, cyberbullying e os perigos de interações com desconhecidos
- ✔️ Definam juntos horários e limites de uso
Ter regras ajuda a criar hábitos saudáveis, sem precisar recorrer ao controle excessivo.
Pressão escolar: na adolescência, o ambiente escolar muitas vezes deixa de ser só um espaço de aprendizado, e vira também um lugar de muitas cobranças. Provas, notas, desempenho, expectativas dos pais, escolhas de carreira podem gerar ansiedade, frustração e medo de decepcionar. Se perceber que seu filho está com dificuldades no desempenho escolar, evite comparações, críticas muito duras e ofereça ajuda na organização de uma rotina de estudos. Busque auxílio da equipe pedagógica do colégio, e se sentir necessidade pode contar também com uma ajuda profissional.
Ufa, quantos pontos para considerar não é mesmo!? E com certeza, teríamos tantos outros para citar. Apesar dos desafios, lembre-se que ser mãe de adolescente é aprender a amar de forma mais silenciosa, mais paciente e muitas vezes mais firme. É entender que aquele filho ou filha que antes corria para o colo agora precisa saber que o colo ainda está ali, mesmo que pareça não querer mais.
Um abraço
Ana Patrícia Kolitski