Quase te liguei: como escutar essa e outras frases

Quase te liguei, não queria te incomodar, pensei muito em você: essas e outras frases sempre aparecem no retorno dos atendimentos após as férias. E como podemos escutá-las?

Essas falas comunicam como cada paciente lidou com o período de férias. É interessante, percebemos que a mesma frase pode ter significados diversos. Por exemplo: dependendo o caso, o paciente não ter ligado pode significar uma ampliação da capacidade de estar só, uma conquista em que ele lidou com aquele que sentiu, mas também, pode significar uma repetição em que o paciente se coloca novamente em um lugar de ter que lidar sozinho, mesmo que com um sofrimento significativo

Dependendo da compreensão, iremos compreender e manejar a situação de uma forma distinta. Por isso, a escuta é fundamental.

Duas contribuições winnicottianas me parecem importantes para pensar essa questão:

A importância do paciente encontrar o ambiente suficientemente mantido após o intervalo das férias. Encontrar um ambiente que se mantém igual, um vínculo que não se enfraqueceu pela distância, auxilia o paciente na criação do símbolo da ausência e no desenrolar terapêutico

Múltiplos sentidos que a mesma conduta pode ter: Winnicott dizia que nem sempre as faltas são um ataque ao setting,  muitas vezes, a falta pode ser compreendida como um gesto favorecido pelo vínculo com o terapeuta. Será que não podemos compreender a forma com que cada paciente lida com as férias dessa forma? 

Falamos assim, de uma clínica do encontro, da importância do ambiente oferecido e dos múltiplos sentidos que ali se produzem. Como diz Tania Aiello-Vaisberg com quem aprendi muito sobre clínica winnicottiana: 
 

“Sustentar não é uma técnica. É algo que está ao alcance do ser humano capaz de ser devotado como uma ‘mãe comum’, no sentido de ser sensível às necessidades daquele que está sob seus cuidados”