Férias: o complexo reencontro familiar

Por Estefania Manholer | Psicóloga

É comum que as pessoas que moram longe fiquem muito ansiosas em momentos de férias em que há o retorno para reencontro com a família. Claro, pela possibilidade de matar a saudade das pessoas queridas, dos lugares, de reviver boas memórias, mas também porque, na intensidade do reencontro, não são experimentados apenas sentimentos e emoções fáceis e gostosos de sentir. O desequilíbrio entre as expectativas criadas e o que de fato é vivido pode gerar frustrações e comprometer uma experiência que poderia ser positiva no saldo final.

A distância física e temporal interfere em como enxergamos e lidamos com questões pessoais e familiares. Algumas delas vão sendo esquecidas e outras potencializadas. Como ter sempre nas lembranças as conversas profundas à mesa das refeições em família, mas não se lembrar como era desgastante bancar uma opinião divergente do avô nessas situações. Ou o oposto, ter sempre em mente como tinha medo dos embates com o avô mas perder de vista como se sentia aconchegada e em família mesmo em meio a discussões acaloradas.

O ponto, ao final, é compreender que é inevitável se surpreender com sensações, emoções e memórias boas e ruins que vão surgindo nesses momentos, pois é um contexto complexo. Partindo do princípio de que estamos falando sobre relações familiares em que há o desejo de estar junto mesmo com todas as dificuldades que as envolve, essas situações e experiências positivas e negativas provavelmente irão permear o período de férias.

A possibilidade de reencontro quando se mora distante guarda funções importantíssimas para o bem da nossa saúde mental, como a manutenção das relações e fortalecimento dos vínculos, a vivência de tradições familiares (das mais corriqueiras às mais elaboradas), a possibilidade de trocas até como um “intercâmbio cultural”, trazendo aspectos da nova realidade vivida. Além disso, o caráter mais emotivo dos reencontros pode permitir que conversas importantes aconteçam e que feridas sejam olhadas.

Ao mesmo tempo, para que sejam elaborados da melhor forma, é importante ter em mente quais os possíveis gatilhos que o encontro com a família pode gerar, como o medo de julgamentos sobre as suas escolhas, as comparações feitas por familiares que a distância possa ter diluído e que retornam quando da presença física, a dificuldade em se adaptar a costumes que já não fazem mais sentido para você, a dificuldade de impor limites e acabar se sobrecarregando, as diferenças que se acentuam, etc. 

Viver longe pode ser uma experiência tanto desafiadora quanto enriquecedora. Estar num lugar novo, se reinventar a partir da bagagem que traz consigo, lidar com a saudade e as faltas sentidas, experienciar novas culturas e com isso novas formas de se relacionar, de se desenvolver pessoal e profissionalmente, de construir uma vida que talvez não seria possível no seu local de origem. 

Nesse sentido, os encontros familiares representam uma pausa na vida cotidiana e a oportunidade de fortalecer conexões essenciais. Embora possa trazer desafios emocionais, os aspectos positivos, como a valorização do tempo juntos e dos laços, nos dão a força necessária para encarar as sombras.