Como ajudar minha amiga que foi diagnosticada com câncer de mama?
Por Marcela Contessotto | Psicóloga
Receber um diagnóstico de câncer de mama causa muitos impactos na vida de uma mulher. A vida vira do avesso, a rotina não é mais a mesma, os medos e incertezas aparecem, relações podem ser abaladas.
A cada ano, aproximadamente 60 mil mulheres recebem o diagnóstico de câncer de mama no Brasil, segundo o Inca. Diante desse índice, com certeza, você conhece alguém que passou ou esteja passando por essa situação.
Vivenciar um momento de grande vulnerabilidade é bastante difícil, mas essa situação pode ser abrandada quando se tem algum tipo de apoio. Só que a realidade não é tão favorável para as mulheres. Nós, que somos educadas desde pequenas a nos preocupar com o outro, acabamos assumindo o trabalho do cuidado em diversas frentes. Mas, mulheres em situação de maior fragilidade, como numa situação de saúde por exemplo, tem mais chances de passar por isso sozinhas.
Não é raro saber de alguma mulher que iniciou um tratamento devido a uma doença grave tenha sido abandonada ou traída pelo seu companheiro, por exemplo. O caso mais recente que me vem à cabeça foi o da cantora Preta Gil, que no início de seu tratamento de câncer de intestino descobriu a traição de seu marido. Você consegue pensar em como uma notícia dessas fragiliza ainda mais uma mulher? Preta Gil em diversas entrevistas ou nas redes sociais destaca o papel fundamental de seus amigos que lhe dão força e a ajudam a ressignificar esse processo pelo qual está passando.
Então se você tem uma amiga que esteja vivendo esse momento difícil com a descoberta de um diagnóstico de câncer de mama ou em processo de tratamento, estar próxima dela, no estilo “ninguém solta a mão de ninguém” pode fazer muita diferença.
Mas aí você pode se perguntar: o que posso fazer para ajudar?
Antes de tudo, eu te convido a olhar primeiro para si. É muito comum aparecer aquela sensação de impotência ao ver que quem amamos está sofrendo e podemos fazer pouco para ajudar. Tire um momento para entender como você está se sentindo diante desta notícia e valide seus sentimentos. Essa é uma estratégia importante para que esses sentimentos sejam elaborados e que depois você tenha condições de oferecer o apoio necessário à sua amiga.
Passada essa fase você poderá encontrar-se com sua amiga e escutá-la genuinamente.
Muitas vezes em situações como essa, diante desse turbilhão de sentimentos que nos provoca, costumamos ficar angustiadas e queremos falar algo para amenizar a dor de nossa amiga, porém falar coisas como: “calma, fique tranquila”, ou trazer outros exemplos de pessoas que passaram por algo pior, não ajudam e podem até piorar. Lembre-se que não saber o que dizer não é ruim, e nada do que você diga poderá resolver ou encerrar essa situação, então escutar é o melhor caminho. Oferecer um abraço e se mostrar disponível para ouvi-la quando ela precisar são gestos de acolhimento e formas de oferecer conforto e apoio neste momento difícil.
Outro ponto importante é estar presente durante todo o processo. Nos consultórios médicos, por exemplo, é comum no início do tratamento a mulher vir acompanhada e nas fases posteriores já estarem sozinhas. Então, para além da escuta você também pode se oferecer para realizar coisas mais práticas como: acompanhar numa sessão de quimioterapia, se oferecer para comprar uma medicação, no cuidado com a casa ou simplesmente tomar um café para falar de outras coisas. Tudo isso vai depender do perfil de sua amiga e de como ela se sente mais confortável e para descobrir isso só tem uma maneira: pergunte a ela!
Não existe uma forma certa ou errada de passar por um processo doloroso como esse, isso porque cada pessoa reage de forma diferente a um diagnóstico e ao tratamento, então conversar sobre como é possível ajudá-la a sentir mais confortável é o melhor caminho. Estar próxima pode fortalecer ainda mais o vínculo de amizade entre vocês, assim vocês vão ter a chance de construir uma parceria honesta com a cumplicidade que um momento tão novo e dolorido nos convoca.
Juntas somos mais fortes, lembra?