Conversar sobre as mudanças vividas na adolescência não precisa ser tão difícil e o filme Red pode nos ajudar
Por Ana Patrícia Kolitski | Psicóloga
Você já assistiu o fime Red: crescer é uma fera? Essa animação da Pixar, disponível na plataforma Disney+, conta à história de uma garota de 13 anos, Mei Lee. No filme Mei, começa a lidar com diversos mistérios da adolescência e da puberdade e como esse processo é impactado pela sua relação com sua família.
O filme aborda diversos assuntos contemporâneos que os adolescentes vivenciam: a puberdade, a relação com a família, a influência da cultura, a relação de amizades e a aceitação de si. A partir das experiências que vivo na clínica, destaco dois pontos importantes para pensar esse período da adolescência e da puberdade: a comunicação entre pais e filhos e a menstruação. Para quem ainda não assistiu, tentarei fazer isso sem muito spoiler rsrsr.
A animação acerta em cheio ao trazer um tema que frequentemente é tratado como tabu de forma acessível. No começo do filme, o tema da menstruação já aparece. Diante da situação, Ming, a mãe de Mei, demonstra uma angústia perante aquele momento, deixando claro que não houve uma preparação para quando esse momento chegasse. Como Ming lida? Sendo prática, busca seu estoque de absorventes e entrega para a filha.
O período da menarca (primeira menstruação) da menina é um ciclo que envolve muitas camadas, que precisam de um cuidado sensível e acolhedor. Muitas vezes, os adultos se sentem constrangidos com o assunto, devido suas experiências, algumas vezes a própria menina se mostra envergonhada.
Será que precisamos esperar o momento da menarca chegar para falar com as meninas? A partir de qual idade podemos iniciar essa conversa? Se você é mãe ou pai de uma menina, imagino que já tenha se deparado com essas questões. Além de questões técnicas como explicar como se usa um absorvente, que esse ciclo vai se repetir mensalmente, que podem sentir dores (temidas cólicas), precisamos falar das questões emocionais e sociais envolvidas. Essa conversa pode se iniciar a partir dos 7- 8 anos, de uma forma leve, espontânea e acolhedora, ciente de que esse assunto poderá ser retomado ao longo do tempo, e ganhando novos componentes na medida em que a criança vai crescendo. Conversar sobre o ciclo menstrual, sobre o sistema reprodutor em uma linguagem simples e direta, ampliando assim esses espaço para ouvir e falar, ajuda a construir uma percepção mais natural e saudável dos ciclos femininos.
Não é novidade que o período da adolescência e a puberdade, muitas vezes, são vividos como um “drama” tanto para os pais como para os filhos. As mudanças hormonais e psicológicas que envolvem este período alteram os comportamentos e a forma de se relacionar com a família. O filme, inclusive, ilustra muito bem essa dinâmica: a maioria dos conflitos estabelecidos acontece pela falha na comunicação entre Mei Lee e sua família, apesar do amor e cuidado que existe entre eles, as expectativas e a escassez de um espaço genuíno de diálogo fazem falta. Ming impõe algumas exigências e obrigações com a esperança de que a filha seja bem sucedida, o que é um desejo muito comum entre os pais.
Outra ilustração muito clara é a forma distinta que os adolescentes se relacionam com a família e com os amigos. Diante dos pais, Mei Lee se comporta de forma responsável, “comportada” e com os amigos ela conversa de interesses românticos, dança, canta, fala sobre seus sentimentos.
Durante a infância, a referência que as crianças têm são seus pais, e isso muda com a chegada da adolescência, onde a identificação passa a estar relacionada aos amigos e as pessoas de seu ciclo social. Essa mudança pode gerar alguns embates com os pais que passam a se sentir distantes dos filhos e muitas vezes, sem saber como se conectar a eles. No filme, mãe e filha não conseguem conversar sobre temas sensíveis na vida dos adolescentes, como as mudanças do corpo, os gostos pessoais e a partir daí, se dá uma longa jornada (que não contarei por aqui) até que elas possam, de fato, se encontrar.
A adolescência é uma fase de experimentação, ou seja, nossos filhos precisam experimentar alguma liberdade, praticando novas formas de ser e construindo independência, autonomia e responsabilidade que serão tão importantes na vida adulta.
Será que Mei Lee e sua família conseguem encontrar uma forma de manejo e superar os desafios da adolescência? Te convido a pegar uma pipoquinha e descobrir essa resposta. Red é uma ótima indicação para conversar sobre esse tema sensível de forma leve e ilustrativa, além de proporcionar um ótimo tempo de qualidade em família. Boa sessão cinema!