Necessidades básicas do bebê
Quais são as necessidades básicas do bebê? Provi alimento, embalei para dormir, troquei, dei banho, levei ao pediatra. O que mais falta?
Falta o essencial. Dar leite é diferente de amamentar com afeto e vinculação. Embalar para dormir de maneira automática é diferente de respirar com o bebê, dar seu tempo para ele e abrir o coração para que ele se sinta acalentado. Trocar e dar banho, quando dados com afeto, interação e envolvimento é totalmente diferente de apenas limpar. Prestar atenção aos sinais do corpo do bebê e estar com ele em suas dores e idas ao médico é diferente de apenas ouvir o que o profissional tem para falar.
Me lembro de uma supervisão de caso de um colega, em que a professora colocou: “Sabe o que faltou para esse adulto quando ele era criança? Faltou a mãe “babar” um pouco nele. Faltou colocar ele embaixo de seu olhar carinhoso e brincar de gugu-dadá, de perguntar ‘quem é a riqueza da mamãe?’, brincar de cuti-cuti, de onde ‘está o bebê’?”. Nesse caso específico, a queixa do adulto era que se sentia sem lugar no mundo. Em suas primeiras experiências extra útero, ao se perceber sem lugar para sentir, seu psiquismo se recolheu por não encontrar afeto. Mas ele recebeu cuidados. Estava banhado e alimentado. Mas faltou ser visto.
Diversos pediatras, psicólogos e terapeutas ao longo dos séculos vem estudando a importância dos cuidados na primeira infância, sobretudo no primeiro ano de vida. É nesse primeiro ano que a criança estabelece suas primeiras conexões com o mundo. É nesse momento que ela passa a compreender como esse mundo a está recebendo. Para um bebê, sua mãe (ou quem exerce esse papel) é seu mundo. Se a mãe abre espaço para vivenciar sua própria jornada com esse ser de coração aberto, a criança entende que há espaço para ser amada. Se a mãe não abre espaço emocional, a criança se retira, volta para dentro de si, o único lugar que ela conhece.
Não importa o nome científico: fase ocular, fase oral… o que importa é que nesse primeiro momento o psiquismo dela começa a se constituir. E as marcas já estarão sendo estabelecidas. Quais são os recados e as marcas que queremos deixar para nossas crianças? Como queremos que elas estejam se sentindo quando não precisarem mais de nós? Queremos que se sintam desamparadas ou que encontrem dentro de si a sensação de que merecem ser vistas e amadas, para que dessa forma estabeleçam relações bem fundadas e calorosas?
Parece tão simples não é? Limpar, banhar, amamentar. Mas os laços invisíveis são os mais importantes para o psiquismo. Aquilo que não se mede em litros, em minutos, em quilos. É o que se sente que fará a diferença na forma como essa criança inicia sua estrutura de base para quem ela virá a ser. Elas precisam ser vistas, com afeto e abertura emocional.
– Por Luiza Domingues, psicóloga clínica