O que Alice no país das maravilhas ensina sobre sofrimento borderline

Quando estudamos sobre o atendimento de pacientes limite falamos sobre a importância e também, o desafio do trabalho na contratransferência. Mas o que isso significa?

Para exemplificar, vou adotar o exemplo usado pelo autor Mauro Hegenberg em seu livro Borderline. Ele usa o ovo Humpty Dumpty e a Alice do País das Maravilhas para ilustrar. Você lembra dessa cena?

Alice encontra Humpty Dumpty em cima de um muro, aflita, ela teme que ele irá cair. Ela permanece ali tentando ajudá-lo, mas tem a impressão que ele irá se despedaçar de um momento para o outro.

Mauro usa essa cena para descrever as sensações contratransferenciais vividas pelo analista. Frente a fragilidade do paciente, o analista tem a impressão que seu paciente, assim como Humpty Dumpty, pode se despedaçar a qualquer momento. 

O analista é invadido por esse temor, e fica como Alice, aflito, temeroso, e se questionando se seus esforços serão suficientes.

Para seguir, o analista precisa lidar com essas sensações. Será isso que o impedirá que querer “salvar” o paciente ou se sentir o único responsável pela sua melhora. Posição desafiadora e principalmente no início, traz para os atendimentos, uma postura permeada de mais presença do que de palavras.

Assim, não basta Alice ficar aflita, ela não poderá ficar observando e segurando Humpty Dumpty para sempre (assim, como imaginamos que o atendimentos dos nossos pacientes também possam se finalizar). Trata-se de fortalecer uma subjetividade que ainda não foi constituída, caminhar da dependência para independência para que assim se possa seguir.