Os prejuízos de não pedir ajuda, sendo mulher

Por Aline Abreu | Psicóloga

Se eu fizesse a pergunta: em uma escala de 0 a 10, qual o nível de desconforto que você sente ao pedir ajuda para alguém, qual seria sua resposta?


Eu, você e tantas outras mulheres ao nosso redor, em algum momento já enfrentamos dificuldades em pedir ajuda. Essa não é uma queixa incomum, pelo contrário, a minha experiência clínica me coloca cotidianamente diante de mulheres às voltas com essa questão.


Vivemos preocupadas com o julgamento alheio, afinal: o que vão pensar se eu disser que preciso de ajuda na rotina ou criação dos meus filhos? Será que serei vista como uma profissional menos capacitada para minha função? Serei considerada fraca, incapaz?


Em uma sociedade que dissemina desde os nossos primeiros anos de vida, que somos direcionadas ao lugar de quem deve cuidar: da casa, dos filhos e dos relacionamentos. Como expressar que não podemos ou mesmo não queremos exercer essas funções de forma isolada e solitária? E que isso não nos torna menos capazes, mas apenas denota que são questões de um coletivo e não algo individual.


Durante a infância, é comum as crianças buscarem corresponder aquilo que os adultos, cuidadores, direcionam a elas, pois a necessidade de ser amado e aceito é algo que todos nós, seres humanos, almejamos sentir. E é nesse período da infância que vamos introjetando, modelos, referências sobre quem esperam que sejamos, sendo muito comum que falas como: “olha você já é uma mocinha, já sabe fazer isso sozinha” ou “você já está grande, precisa ser independente” acabam ao invés de incentivar a autonomia por transmitir a mensagem equivocada de que pedir ajuda, precisar do outro é algo que deva ser evitado.


E aqui, abro para vocês algo muito íntimo: por muito tempo ao longo dos meus anos de análise pessoal, uma das minhas queixas girava em torno do fato de que eu queria muito não precisar de ninguém, para nada. E a constatação de que isso não seria possível, de que seguirei até o fim da vida dependente de um outro alguém, em tantos outros níveis me deixava muito irritada, briguei por muito tempo com essa verdade.


Hoje, anos depois, alguns passos dados no caminho do amadurecimento pessoal, venho falar com você sobre o quão prejudicial pode ser, continuar sustentando a ideia de que daremos conta de tudo, porque não vamos. E não porque você não é boa o bastante, mas porque simplesmente ninguém dá, mas há todo um sistema social que se beneficia do fato de nos fazer acreditar de que se a gente se esforçar mais podemos conseguir.


O resultado disso vem sendo cada dia mais explícito, pelo aumento no número de mulheres adoecidas emocionalmente, visto que segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) o gênero impacta de forma diferente as mulheres que por questões biológicas e sócio-culturais, são mais suscetíveis e expostas a riscos específicos para a saúde mental.
Os dados apontam que 1 a cada 5 mulheres são afetadas por algum tipo de transtorno mental, sendo que a taxa de depressão chega a ser, em média, o dobro do número constatado no público masculino.


Uma pesquisa realizada em 2023, pela Organização não governamental Think Olga, apontou que após a pandemia de covid – 19, cerca de 45% das mulheres brasileiras estão enfrentando algum adoecimento psíquico. É urgente o debate sobre o assunto para que mudanças possam ser promovidas.
A começar pelo fato que de que vamos precisar nos confrontar com nossas limitações, com a dificuldade em dizer não e expressar a necessidade de ajuda, de rede, de amparo a nível micro e macro, não por sermos incapazes, mas por ser surreal essa ideia da mulher guerreira que aguenta cuidar de tudo e de todos, menos de si mesma e ainda com um sorriso no rosto.


Um processo que claramente precisará mexer com as estruturas sociais, que sofrerá resistência, seja pelo fato de que aqueles que se beneficiam desse modelo, irão fazer movimentos contrários para não perder seus privilégios, e porque também, ocupar esse lugar da mulher abnegada, traz seus ganhos secundários, com as migalhas de reconhecimento que comumente vem com data marcada, anualmente nos dias das mães e/ou no dia internacional da mulher.


Finalizando aqui essas reflexões, farei uma última confissão a você leitora, confissão essa feita a uma amiga pouco antes de começar a escrever esse texto: procrastinei até o último prazo possível essa escrita e ao pensar sobre isso, constatei o quanto essa voz que diz que, se pedir ajuda estarei incomodando, de que preciso fazer sozinha, ainda é alta aqui dentro também.
Organizar as ideias para trazer essa reflexão aqui, mexeu com conflitos internos que precisam ser olhados e cuidados se eu quiser continuar avançando no meu processo emocional e deixar essa voz bem baixinha. Mas porque estou fechando o texto dessa forma? Para dizer para você que, apesar de já ter avançado que o caminho é árduo, romper com esses padrões dá trabalho, é assim, difícil mesmo, mas um caminho necessário para que possamos encontrar uma vida com mais sentido e saúde. Com esse objetivo eu reconheço que preciso de ajuda nesse e em tantos outros aspectos da vida, e você?

Vamos juntas? Nós aqui da A Casa da Vida, podemos te ajudar.

Referências:

  • https://vidasimples.co/colunista/por-que-e-tao-dificil-para-as-maes-pedirem-ajuda/
  • https://institutocactus.org.br/8-dados-sobre-a-saude-mental-das-mulheres/
  • https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-08/pos-pandemia-45-das-mulheres-mostram-algum-tipo-de-transtorno-mental