Precisamos Falar Sobre a Morte

Passei esses últimos meses estudando o tema da morte. Comprei o Livro da Dr Ana Claudia Quintana Arantes, médica especializada em cuidados paliativos. Depois fiz seu curso sobre o tema. Nesse processo vivi também minha primeira perda de alguém de vínculo sanguíneo bastante próximo, meu querido avô, Sr Avelino. Fechei o mês de Julho em uma de suas aulas na The School Of Life Brasil, partilhada com pessoas que vivem o luto ou o processo de adoecimento de alguém querido.

Temos a ideia de que se falarmos sobre a morte, acabaremos por antecipar nosso dia de dizer adeus à vida. Fugimos do assunto quando alguém está passando pelo processo, pois não queremos que a pessoa fique triste (ou será que não queremos lidar com a tristeza do outro?). Não fazemos planos funerários ou discutimos sobre como gostaríamos de sermos cuidados em caso de cuidados paliativos e como gostaríamos que nosso corpo, já sem vida, fosse tratado.

A questão é, que mesmo assim, ela chega. Chega para qualquer um de nós, nossos amigos e inimigos. Nossos queridos, e, em algum momento, chegará nossa vez. E junto dela chegará a tristeza, a saudade, o amor. O luto não podemos evitar. O luto se estabelece no dia que alguém importante morre e pode ser vivenciado de diferentes formas, por diferentes pessoas.

O luto é pessoal e intransferível. Não é possível transferir a experiência de morte. Não existe poder ou dinheiro que se possa ter para colocar alguém no seu lugar para sofrer por você. O chão está sobre os seus pés, e você tem que andar. Perde-se o controle sobre seu mundo presumido. A organização que havia antes não existe mais. E essa estrada é sua.

O luto é um processo dual: tem horas que está na dor, tem horas que está na vida. Esse processo é o que cura. Pois não tem como ficar o tempo todo na dor, mas ela tem que ser visitada de vez em quando. Quando a dor chega, temos que recebê-la, oferecer um cafezinho e depois, despedir.

O que talvez possamos evitar é o sentimento de inconformismo. A partir do momento que pensamos sobre a morte, podemos passar a aceitar essa realidade de outra forma, mais leve, respeitosa e consciente.

Para compreender o processo do luto, é possível olhar para a metáfora da caverna: você entra na caverna no dia que a pessoa morre. Mas você é quem tem que cavar a saída. As pessoas queridas podem oferecer boas enxadas, mas quem tem que cavar para uma nova vida (que tem a ausência do outro) é você.  E você sai da caverna quando se reencontra com o olhar que aquela pessoa trazia à você. Nesse momento, você não está mais só, está com a pessoa que morreu. É quando se entende que a pessoa que morreu vive dentro, disposta e disponível para você acessar quando quiser. Esse é o estabelecimento do vínculo simbólico. A história não se enterra. Amor não morre.

A coragem de falar sobre a morte permite que nós vivamos a vida mais conectados com aquilo que faz sentido para cada um de nós. Nos faz pensar que em algum momento o que temos hoje irá mudar. Pessoas amadas não estarão mais conosco fisicamente, e nem nós, algum dia estaremos com elas. Quando não se tem medo da morte, você é livre para fazer o que quiser dessa vida. Livre para se realizar, para não se realizar. Livre para expressar afeto, pensamentos, sentimentos. Livre para viver a vida que você quer viver, e não a vida que disseram que você deveria viver.

Por que deixar para a hora da saída?

Então, o que fazer depois dessa reflexão: olhe amorosamente para a sua história e se pergunte: O que eu escolho fazer agora? O que quero fazer com o tempo que me será dado? Que vida quero viver?

Precisamos falar sobre a morte. Precisamos falar sobre a VIDA.

Todo conteúdo aqui é inspiração e reflexão vindos do trabalho da Dra Ana Cláudia Quintana Arantes, que recomendo de todo meu coração! Seguem links relacionados. 

Livro em PDF: A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver 

Curso OnLine: Como Encarar a Morte

Aula The School Of Life: Como Lidar com a Morte